quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Você que nunca me encontrou.

“Sabe, eu nunca te encontrei. Nem andando por aí, nem no Café, muito menos no cinema. Quem dirá comprando tomates na feira. Fantástico mesmo seria se eu tivesse te encontrado na fila do Banco do Brasil. Ou quem sabe provando roupas num brechó, quiçá dançando tango no teatro. É, eu nunca te encontrei. E suponho que você também nunca tenha me encontrado. Eu passo despercebido. Batido. Impune. Mas passo, sempre passo. Passado, amarrotado, dissipado. Estou eu a cá, te escrevendo. Pra você que nunca encontrei escrevo. Escrevo que quero te encontrar. Te encontrar e não saber quem é. Deixar o universo cuidar disso. De mim. De você. Quero um encontro totalmente ao acaso, engraçado talvez. Pra depois, coisa de décadas depois de agora a gente possa contar. Rir. Agradecer. Quero te levar croissants no nosso encontro. Croissant, e ouvir você me chamar de Meu menino. Meu menino enquanto o queijo queima o seu lábio superior e você corre a língua do superior para o inferior me chamando de Meu menino.Quero o sexo do seu olho, do seu olho que nunca vi, mas que consigo imaginar. Um olho-fogo. Brasa. Que se apaga quando a água das vísceras sobem pra brindar seu rosto. Rosto branco, quase rosado, que eu nunca vi, mas sei. Te contar uma história. Você me chamando de Meu menino. E eu sendo. Mesmo achando que já sou homenzinho, de barba, responsabilidades, planos e futuro. Futuro, palavra chata. Quero ser o puber do Hoje. Hoje que tem sol. E tem você, que eu nunca vi. Que nunca encontrei. Imaginar a gente velhinho. Vendo programa sensacionalista na televisão em pleno domingo à tarde. Tomando chá. Comendo croissants. Porque o croissant vai nos marcar. Marcar por eu ter te levado no primeiro encontro pra você que nunca vi. Estarei com 70, 80, 90 tanto faz. Você vai me chamar de Meu menino. Eu que nunca te encontrei. Você que nunca me encontrou. A gente, que se conhece há muito tempo.”

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